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É possível empreender na gestão da escola?

Quem cursou licenciatura nos últimos anos aprendeu que a gestão escolar surgiu para superar o enfoque limitado da administração.

O que esqueceram de nos ensinar é que gestão e administração são sinônimos e, portanto, cabe a nós, envolvidos com a Educação, superar limitações, não apenas no campo dos conceitos, mas na execução de nossas tarefas.

Nos acompanhe neste artigo e entenda como os princípios e conceitos de Administração colaboram para que você empreenda na gestão da sua escola.

Qual a diferença de administração e gestão?

Vamos utilizar os conceitos do léxico: o Dicionário Caldas Aulete (2004, p. 402, grifo do autor) ensina que gestão é a “ação ou resultado de gerir; ADMINISTRAÇÃO” – veja bem, está em maiúsculas no original, significando o campo a que pertence. No mesmo livro, se buscarmos o conceito de administração, veremos que é a “ação ou resultado de administrar. 2 gerência, direção (AULETE, 2004, p. 17).

O bom e velho Dicionário Aurélio (FERREIRA, 2001, p. 22) já traz uma definição, digamos, mais completa para administração, e menos para gestão. Para a primeira, ele conceitua como “ato ou efeito de administrar. 2 conjunto de princípios, normas e funções que têm por fim ordenar a estrutura de uma organização […]”. E gestão é apenas o “ato ou efeito de gerir; gerência” (FERREIRA, 2001, p. 374).

Mas, para um golpe de misericórdia, resolvemos procurar a origem da palavra em um dicionário etimológico conceituado, como o Cunha (1997), adotado pelo Ministério da Educação (MEC) e renomado entre os estudiosos da Língua Portuguesa. Nele, a palavra gestão remete a gerir, que significa “administrar, dirigir, regular” (grifo meu), sendo proveniente do Latim “gerire, por digerere” (CUNHA, 1991, p. 384, passim, grifos do autor).

A história da palavra mostra que ela veio de digerir. E não é diferente agora: para a gestão de uma escola é preciso, muitas vezes, engolir certas coisas, que vão de ideias antiquadas a políticas ineficazes.

Mas a intenção, aqui, é mostrar que a resistência que muitos profissionais da Educação demonstram em relação aos termos, conceitos e princípios da Administração são um equívoco.

Como aproveitar os conceitos da administração enquanto ciência?

Várias discussões e leituras foram feitas para o desenvolvimento deste artigo, que é parte do e-book Empreendedorismo para professores na prática, porque queríamos (e continuamos querendo, sempre) respeitar as diferentes ideologias, princípios e características dos professores que lêem o que escrevemos: a intenção é conhecer o que há de melhor em qualquer campo do saber, e utilizar na educação, e não implantar ideias de educação como quase-mercado, ou de aluno-cliente, como pontuaram Souza e Oliveira (2003) em seu estudo sobre a avaliação.

Também conhecemos e respeitamos o trabalho de Heloisa Lück e o de Vitor Henrique Paro na área de gestão.

Contudo, acreditamos que é possível fazer mais e melhor, se utilizarmos o que dá certo em outros campos, também na área da Educação.

Uma de nossas discussões pontuou que a prática democrática em um lugar com muitas cabeças é bem mais complicada do que parece, e utilizamos um conceito micro: a administração de nossas casas.

Quando temos filhos adolescentes, que têm suas próprias convicções geralmente é difícil chegar a um consenso: imagine em uma escola, onde existem conflitos políticos e ideológicos!

Por esta razão, é preciso despir-nos de antigos conceitos para poder buscar atingir o objetivo que é de todos dentro da escola:

Educação de qualidade para os alunos, com trabalho digno e respeitado do professor, e de toda a equipe de trabalho na escola.

A gestão escolar precisa aproveitar princípios e conceitos de Administração, enquanto ciência. Na sua casa, você se programa para fazer atividades fora de casa, quando sai, de modo a ganhar tempo e gastar menos dinheiro. Na escola, é preciso fazer o melhor possível com os recursos disponíveis e, para isso, nada melhor que administrar com competência a gestão da escola.

Quanto melhor conhecemos conceitos administrativos e os utilizamos para melhorar a gestão, melhor entendemos que não precisamos mudar nossa ideologia, nem concordar com tudo que nos é dito. O que precisamos é analisar o que pode ajudar e aplicar para nossa escola.

É bom lembrar que, quem não muda, está estagnado e, portanto, condenado a ficar para trás.

Como empreender na gestão escolar?

A gestão da escola deve ser democrática e participativa, e precisa, ainda, ser competente.

De nada adianta uma gestão onde todos falam e são ouvidos, mas nunca se realiza absolutamente nada. Ou onde a escola não melhora, não evolui: continua com os mesmos recursos, e nada é feito para auxiliar o trabalho do professor e da equipe de educação. Talvez isso seja a administração de que tanto nós, professores, queremos fugir.

Para que uma gestão escolar seja eficiente, é possível utilizar ferramentas de auxílio: se não há consenso entre os professores e não é possível concluir temas em aberto nas reuniões, ou não há quórum, basta usar,
por exemplo, uma ferramenta de enquete. Pode ser até no Facebook – é grátis e fica registrada, e pode ser feita em um grupo
secreto.

Outra dica importante é utilizar aquilo que a Administração, enquanto ciência, já provou que dá certo: a análise de SWOT (Strength, Weakness, Opportunities, threats) ou, em português mesmo, Análise FOFA – Forças, Oportunidades, Fraquezas e Ameaças, e as técnicas de OKR (Objectives and Key Results – em português: objetivos e resultados-chave) podem e devem ser implantadas na gestão da escola, sem que isso ameace nossa ideologia ou convicções.

Isto é Empreender na gestão escolar:

  • Buscar de informações que possam criar oportunidades, vindo de algo que já se sabe que dá certo, da Administração, e utilizar na gestão escolar, sem abrir mão de suas convicções ideológicas ou políticas;  
  • Tomar a iniciativa de melhorar a gestão escolar utilizando os recursos possíveis, mesmo que sejam de outras áreas;
  • Planejar e monitorar sistematicamente a gestão, estabelecendo metas a serem alcançadas, persistindo e demonstrando comprometimento;
  • Correr o risco calculado de experimentar o novo, buscando cada vez mais qualidade e eficiência, demonstrando que estamos sempre procurando o melhor;
  • Buscar o engajamento de toda a equipe, não apenas dos docentes, para que o objetivo de um seja o de todos (persuasão e rede de contatos);

Só assim conseguiremos a independência e autoconfiança necessárias para uma gestão escolar eficiente e tranquila, porque já não basta ser apenas democrática e participativa!

REFERÊNCIAS

CALDAS AULETE, Mini dicionário contemporâneo da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002.

CUNHA, A. G. Dicionário etimológico Nova Fronteira da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997.

FERREIRA, A. B. H. Mini Aurélio Século XXI. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.

SOUZA, S. Z. L.; OLIVEIRA, P. O. Políticas de avaliação da Educação e quase-mercado no Brasil. Educ. Soc., Campinas, vol. 24, n. 84, p. 873-895, setembro 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/es/v24n84/a07v2484.pdf>. Acesso em 25 jun. 2016.

O texto acima é de autoria de Elita de Medeiros, da equipe da Plataforma Cultural, uma empresa focada em educação e que oferece consultoria, assessoria e capacitações que atendam necessidades imediatas de educadores e demais membros das equipes escolares e de secretarias de educação.

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