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Igualdade de gênero: como trabalhar em sala de aula

O termo igualdade de gênero, por vezes, tem seu significado distorcido, causando confusão para muitas pessoas. Ele não se trata de orientação sexual e tampouco de ideologia. Como princípio básico, tem o objetivo de igualar direitos e espaços na sociedade a todas as meninas e meninos.

A defesa da igualdade para as mulheres é a bandeira mais levantada, já que os números mostram que há, sim, desigualdade entre os gêneros. Mas, questões como, maior incidência de trabalho infantil para os meninos ou situações em que homens não podem demonstrar suas fragilidades, devem ser combatidas na mesma proporção que os assuntos relacionados às meninas.

E por falar em números. Você sabia que o Brasil é um dos países mais desiguais do mundo? Dentre 145 países, ocupa a 85º posição em igualdade de gênero. 

Segundo o IBGE, no País, a maioria dos cargos de liderança são ocupados por homens, e quando elas chegam lá, ganham 20% a menos do que eles.

Mas, vai além de salários desnivelados. São cerca de 12 mulheres assassinadas e 153 estupradas por dia. Sendo que, a maioria das mulheres já sofreu assédio sexual, pelo menos, uma vez na vida. Acontece que, muitas têm medo de buscar seus direitos, por temerem retaliações.

Nas escolas, as meninas têm maior propensão a abandonarem a sala de aula. São 34 milhões delas fora da escola primária no mundo, do total de 63 milhões de crianças. 

Conforme Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD) de 2016, muitas garotas são obrigadas a sair da escola para cuidar dos afazeres domésticos ou de outras pessoas.

Diante de números como esses, a previsão é que, apenas em 2133, haverá a equiparação de gênero no mundo.

Todo esse tempo para alcançar a igualdade, trará consequências desastrosas para a sociedade. Diferenças salariais contribuindo para a instabilidade da economia. Os constantes feminicídios em função da falta de segurança. Altos índices de evasão e abandono das escolas.

O papel da escola na igualdade de gênero

A naturalização das desigualdades é, na maioria das vezes, ancorada pelo discurso biológico de que mulheres e homens nascem com comportamentos pré-determinados, em que as meninas são sensíveis e protetoras do lar e os meninos fortes e provedores do sustento familiar.

Por meio de estudos antropológicos relacionados à construção cultural dos gêneros, é comprovado que a diferenciação de comportamento entre mulheres e homens está diretamente relacionada a maneira como foram educados.

É certo que, ao colocarmos em xeque a desigualdade de gênero, estimulamos ambientes democráticos, dignos e livres de relações abusivas de poder.

Não é à toa que, dentre os 17 objetivos da Agenda 2030, um deles é direcionado à igualdade de gênero. Prova de que países do mundo inteiro entendem que o desenvolvimento sustentável da humanidade depende, também, da equiparação entre homens e mulheres.

A escola, como responsável pela formação básica de todos os meninos e meninas, tem papel fundamental na desconstrução de preconceitos, proporcionando um espaço de transformação na sociedade.

Em época de polarização, é preciso tato ao lidar com o assunto. Muitos pais confundem igualdade de gênero com orientação sexual. Nessas horas, o diálogo é a melhor saída. 

Explique o que significa o tema, traga exemplos e números concretos. No final das contas, eles compreenderão. Nenhum pai ou mãe quer que sua filha abandone a escola por conta de um casamento ou gravidez precoce, ou ainda, que sofra nas mãos de um companheiro violento.

Como abordar o assunto em sala de aula?

Diante de uma montoeira de conteúdos para repassar aos alunos, é difícil utilizar uma ou duas aulas para abordar o tema. Além disso, o professor ou professora precisa ter tato e estar disposto a debater de forma profunda o assunto. 

Certas construções estão tão impregnadas na sociedade, que parecem ser verdade, mas, muitas deles, não são.

É preciso ter em mente que atitudes preventivas podem evitar inúmeras ocorrências de violência e feminicídios no futuro. Com toda certeza, o esforço valerá a pena.

O assunto pode ser encaixado com conteúdos específicos, ou ainda, ser desmistificado através de ações simples do dia a dia na escola. 

A seguir, separamos ideias de como trabalhar a igualdade de gênero em sala de aula:

Rodas de conversa

Um bom tema para uma roda de conversa é os participantes interagirem, trazendo as principais barreiras que impedem de alcançarmos a igualdade de gênero. Em seguida, devem pensar em soluções para aplicarem no seu dia a dia e derrubarem essas barreiras.

Você, como mediador ou mediadora, deve pontuar as questões levantadas, trazendo diferentes pontos de vista e fazendo com que analisem as situações expostas pelos mais variados ângulos.

Essa é uma ideia que, além de trazer à tona o assunto, propõem soluções imediatas.

Pesquisa e escrita

Nos conteúdos que abordam histórias, das mais diversas, incentive os alunos a pesquisarem sobre mulheres que se destacaram naquele contexto.

Explique que, em muitos livros, percebemos a presença de grandes nomes e feitos. Mas, que na maioria ressaltam, apenas, histórias de homens. Faça-os questionarem sobre o papel das mulheres nesses momentos. Onde estavam e porquê foram apagadas da história.

Para complementar, peça que escrevam sobre suas pesquisas. O que aprenderam e como reescreveriam a história diante dos novos fatos encontrados.

Leia também:

Entrevistas

Proponha que os alunos façam entrevistas relacionadas ao conteúdo da disciplina. De preferência, com mulheres de seus ciclos sociais que os inspiram.

Esse exercício fará com que parem para escutar a história dessas mulheres. Dêem ouvidos e importância à diferença que fazem na sua vida e na vida de outras pessoas.

Filmes

Dependendo do tema da aula, um filme pode ser apresentado, seguido de um debate sobre como as personagens mulheres são retratadas na trama.

A igualdade de gênero pode entrar como um complemento, para que não se perca o foco do conteúdo. O intuito é trazer a reflexão para a roda e discutir sob diferentes pontos de vista, fazendo com que pensem, cada vez mais, acerca do assunto.

No dia a dia 

Por mais que não consiga encaixar o assunto nos planos de aulas, é ao repensar as atitudes do dia a dia e dar o exemplo, que você fará toda a diferença.

No Ensino Infantil, ao propor brincadeiras, deixe que escolham as atividades conforme suas vontades, sem limitar o que é brincadeira de menino ou de menina.

Da mesma forma, procure ampliar o repertório de brinquedos, deixando de lado as demarcações por gênero.

Ao longo das aulas, repense hábitos em sua linguagem e nas expressões que utiliza de forma automática. Muitas vezes, replicamos o pensamento do senso comum sem, ao menos, questionarmos.

O professor ou a professora servem de inspiração para os alunos. Por isso, é importante que as mudanças partam de nós, antes mesmo de exigirmos a transformação das outras pessoas. 

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E então? Na sua escola, há um trabalho focado em promover a igualdade de gênero? Quais são os maiores desafios que encontram na prática? Conta para nós a sua experiência, será um prazer ouvi-lo!

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