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O aumento da violência contra mulher durante a pandemia e o que fazer para combatê-la?

O isolamento durante a pandemia é importante para preservar a vida de todas as pessoas. Porém, suas consequências são devastadoras para quem precisa conviver diariamente com o seu agressor, como em situações de violência contra mulher.

O aumento desses episódios acontece, não só porque o tempo de convivência das famílias tem sido maior, mas também pelo crescimento no consumo de álcool, queda na renda e desemprego.

Conforme o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), a violência doméstica aumentará, no mundo, em média 20% durante o isolamento. Prova disso é que os primeiros casos registrados devido à pandemia surgiram na China, onde a crise começou. Em seguida, na Itália, França, Portugal, Inglaterra e Estados Unidos.

O grande problema da violência praticada dentro de casa é o silenciamento da vítima, que se sente intimidada por seu agressor e reluta em fazer a denúncia. É sobre isso que falaremos a seguir.

Violência doméstica silenciada durante o isolamento

Apesar de alguns órgãos públicos, como o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, terem registrado aumento significativo de casos de violência doméstica durante o isolamento, é preciso cautela ao interpretar esses dados. Eles podem estar refletindo uma maior vazão de inquéritos abertos antes da pandemia.

Conforme o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), os registros de violência contra mulher, enviados pelos estados, foram reduzidos durante o mês de março de 2020 se comparados ao mesmo mês do ano anterior.

Dentre os motivos que justificam essa queda, destacamos as seguintes dificuldades que as vítimas costumam enfrentar para fazer uma denúncia:

  • Ligar ou enviar mensagem para denunciar a violência, considerando que o agressor está sempre por perto;
  • Acessar os serviços públicos, devido à irregularidade dos atendimentos durante a pandemia;
  • Se deslocar até à delegacia com o objetivo de registrar uma queixa.

 

Hoje, os dados que se tem acesso sobre violência doméstica são originados dos serviços prestados pelo Estado como, processos judiciais em aberto, registros de ocorrências e ligações. Segundo esses dados, houve aumento no acionamento da Polícia Militar, porém as ocorrências via Polícia Civil diminuíram consideravelmente durante o isolamento.

Em redes sociais, como o Twitter, o número de menções à brigas de casal com indícios de violência contra mulher, postados por vizinhos, aumentou 431% entre fevereiro e abril de 2020. Já no Google, foi registrado o maior número de buscas sobre violência doméstica dos últimos cinco anos.

Vale destacar, ainda, que o número de mulheres assassinadas em casa em SP, segundo o jornal Folha de São Paulo, praticamente dobrou durante o isolamento.

Isso tudo quer dizer que, apesar de alguns números mostrarem que o número de denúncias de violência contra mulher caiu nos últimos meses, o problema não acabou, muito pelo contrário, ele aumentou e está sendo silenciado. 

O que fazer para combater a violência contra mulher durante a pandemia?

A Covid-19 trouxe uma série de demandas novas para o poder público. Por vezes, alguns temas são priorizados em detrimento de outros. Acontece que a violência contra mulher não pode ser negligenciada, esse é um problema que precisa ser combatido, independente das crises que o mundo atravessa.

A Entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres (ONU Mulheres) afirmou que as mulheres estão enfrentando dificuldades para acessar os serviços de proteção. Por isso, fez um apelo para que os governos planejem ações para combater o aumento da violência doméstica durante a pandemia.

Algumas das recomendações da ONU para as autoridades governamentais são:

  • Aumentar o investimento em serviços on-line e em Organizações da Sociedade Civil (OSCs);
  • Criar sistemas de alerta de emergência em lugares públicos como, farmácias e supermercados, ou outras maneiras seguras para que as mulheres peçam apoio sem chamar a atenção do agressor;
  • Considerar os abrigos para vítimas de violência como serviços essenciais;
  • Fazer com que o Sistema Judiciário processe os agressores;
  • Evitar a libertação de condenados por violência contra mulher;
  • Criar campanhas de conscientização pública sobre violência doméstica.

 

O FBSP também faz sua recomendação para que o registro de boletins de ocorrência não exija mais que a vítima se dirija a uma delegacia. O estado de SP, por exemplo, disponibilizou um formulário on-line para facilitar as denúncias de violência.

Como a Assistência Social pode atuar nos casos de violência contra mulher?

Os serviços da Assistência Social são essenciais e precisam ser mantidos durante a pandemia. Um dos fatores que pesam sobre o aumento da violência contra mulher é a saúde mental de seus parceiros para lidar com a situação que, muitas vezes, envolve o desemprego ou a queda na renda. Por isso, é tão importante o trabalho dos psicólogos nesse momento – só para citar um exemplo. 

Porém, sabemos que, devido à falta de tecnologia, nem todos os equipamentos possibilitam o trabalho remoto. E ainda, muitos usuários não têm acesso à internet ou a celulares e computadores.

Diante desse cenário, a equipe precisa se reinventar. Seja por telefone ou WhatsApp ou, em último caso, no equipamento com os devidos cuidados. 

Nos casos em que o contato precisar acontecer a distância, é importante lembrar que o profissional deve repensar sua abordagem. Ao ligar, não é indicado perguntar se está tudo bem ou se a usuária está sofrendo alguma violência, pois ela poderá ser inibida por seu agressor, que estará próximo.Outra possibilidade é indicar, por exemplo, o Disque 180 ou o recente aplicativo Direitos Humanos BR, lançado pelo Governo Federal, para facilitar as denúncias de violência doméstica.

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E então? Os registros de violência contra mulher têm aumentado ou diminuído em seu município? Como sua equipe tem trabalhado para combater esse problema que está sendo silenciado durante a pandemia? Conta para nós, será um prazer ouvi-lo!

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