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O que eu também chamo de plano de aula

Foi na aula de yoga que veio a frase que me despertou do, irradiante mas quase acabado, estado de férias. A orientadora pediu que fizéssemos uma meditação a respeito dos nossos planos e do que precisaríamos fazer para realizá-los ao longo deste ano. Em práticas de meditação, é comum nos pedirem para imaginar cores, talvez uma forma de facilitar nossa concentração. O que eu não esperava, no entanto, era um branco. A partir do momento em que o mantra começou a tocar, minha mente passou a caçar um plano e se deu conta de que não havia um, ou pelo menos, nenhum concreto. Nos últimos anos, eu vinha trabalhando sempre com objetivos a curto prazo e confesso que havia me acostumado a esse método. Traçar uma data, trabalhar em prol e fazer acontecer.  Nos últimos tempos, porém, venho novamente seguindo uma linha mais comodista: tenho um trabalho, já sei o que ensinar e como ensinar, e isso basta. Basta mesmo? É claro que não. Nem pra mim e estou certa de que para nenhum de vocês, independentemente da função que exerçam.

Como ainda estamos com tempo livre antes da volta às aulas, penso ser esse um momento propício para refletirmos sobre as escolhas que nos trouxeram até aqui, a começar pela principal delas: ser um educador.

Ainda hoje, uma colega me disse que está desistindo da carreira, que não se vê mais como professora. Apesar de triste com as alegações dela, que são bem aceitáveis, acredito que essa tomada de decisão é importante. Não é voltar atrás. Não há volta. Há reconsideração. Eu ainda sou feliz com essa escolha ou estou apenas acomodada à rotina e/ou estabilidade? Uma “desistência”, por mais fracassada que possa parecer, pode gerar bons frutos para todos os envolvidos: a pessoa que segue em busca de um novo propósito, a família que convive com a angústia, o grupo escolar por não ter de lidar com alguém que não ama (mais) o que faz, e os alunos que não serão afetados pela desmotivação do profissional, enfim, ganha a Educação.

Tomar uma decisão como essa, depois de anos de carreira, deve ser muito difícil, mas não é a única decisão difícil que você deve ter tomado na vida. Estou certa? Cada vez mais o mercado se expande, abrindo portas para se trabalhar em inúmeras áreas, inclusive dentro da educação, porém fora da sala de aula, ou à distância – usemos a tecnologia para nos reinventar. É importante em tempos como esse, no qual se fala tanto em stress e depressão, respeitarmos nosso limite e buscar algo que nos satisfaça.

De repente, é chegada a hora de você fazer uma pausa para realizar aquele sonho antigo de morar um tempo fora do Brasil, de estudar um novo idioma, “experienciar” uma nova cultura. Ou de passar um tempo a mais com a família, fazer aquela reforma na casa, mudar de cidade, abraçar o sonho de seu companheiro(a). Um tempo distante pode fazer você enxergar que a vocação continua ali aguardando você se realizar de outras formas.

Mas se você, assim como eu, não pretende desistir e, muito pelo contrário, quer investir, este também é o momento de refletir em nossos planos para o ano letivo. O que podemos fazer para que este seja um ano positivamente diferente do anterior. Podemos transformar os erros do passado em formas de reCRIAR a tentativa de acerto? O que vamos experimentar de novo? Não vamos fazer o mesmo de novo.

Podemos voltar a estudar: uma pós-graduação, um curso complementar, um aperfeiçoamento. Está difícil voltar a estudar com a vida corrida? É complicado para todos administrar o tempo, mas, acredite, é algo absolutamente possível. Eu mesma produzo mais quando tenho menos tempo. Há cursos on line, e você pode até mesmo adquirir materiais e disciplinar-se para aprender sozinho, mesmo que isso não lhe traga um certificado, não esqueça: nós estamos em busca é de conhecimento.

Ou, se você já vem se dedicando a estudos nos últimos anos, não seria a hora de sair da teoria e aplicar o que você tem aprendido? Só há uma forma de saber se a nova prática dará certo, testando-a. Não tenha medo, aliás, medo é algo que um professor não pode ensinar. Em vez de sentir-se amedrontado, convide os alunos a fazer parte dessa nova experiência. Que criança não adora ser um explorador? Que adolescente não curte ser inovador?

Ainda percebo, por experiência própria, que viemos ensinando isoladamente nossas disciplinas. Não seria este o ano de nos aventurarmos numa prática multidisciplinar? Convidar a colega de geografia para participar do planejamento de uma aula de história. Chamar a professora de inglês para ensinar geografia. Parcerias. Precisamos do outro para entender melhor, inclusive, aquilo que pensamos dominar. Procure também o pedagógico da escola, use as opções virtuais para facilitar a conversação e crie projetos que façam você sentir novamente que seu trabalho é útil, porque as pessoas estão mudando, hábitos, cultura, pontos de vista, formas de se relacionar. Nosso antigo método talvez já não sirva mais, não nos sirva mais, como aquela roupa gasta ou pequena demais para o nosso novo tamanho, afinal, estamos nos agigantando em vivências e experiências (?).

Mas se você já é a profissional que vive atualizada, reinventando suas práticas, criando projetos, talvez este seja o ano para começar um plano pessoal: aquele curso de instrumentos, a mudança alimentar, uma viagem, voltar à prática de esportes. Em algum momento, parece que nossa vida pessoal se casa com a profissional, e, como em todo casamento, as duas partes precisam estar bem para que a relação dê certo. Encontrar um tempo para si mesmo não é egoísmo, é, na verdade, uma forma de se descobrir e se melhorar para compartilhar-se.

As possibilidades são muitas. Não importa com qual delas você tenha se identificado, há sempre algo para se fazer e tudo requer planejamento. Como aquela tal orientadora de yoga disse, talvez ao perceber que alguns de nós estávamos surpresos com a proposta de pensar nos planos que sequer tínhamos: “pode ser que vocês invistam este ano inteiro apenas planejando as mudanças do próximo ano. Encontrando o tempo que tanto se alega faltar ou aprendendo a aproveitá-lo”.

Seja qual for a sua escolha, desejo coragem e um ano novo realmente novo, e que as únicas coisas velhas sejam essas frases clichês que, por vezes, usamos para transmitir otimismo. Melhor assim, afinal, o que, com certeza, não precisamos é do pessimismo que tem cercado essa área tão linda e nobre de atuação, pois ele, por si só, não melhora em nada a situação.

E aí, quais são os seus planos?

Conteúdo para educadoras(es)

Aqui no blog da Portabilis você encontra vários artigos sobre conceitos pedagógicos, competências e ideias para planos de aulas adaptados à BNCC e dicas importantes para gestoras(es) escolares e dirigentes municipais. Confira alguns destaques:

 

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