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A influência da violência no desempenho dos alunos

Apesar de parecer óbvio que questões fora do muro da escola influenciam no desempenho dos alunos em sala de aula, há raros estudos que comprovam a ocorrência por meio de evidências.

A violência nos arredores da escola é um dos fatores que fazem com que crianças e adolescentes deixem de frequentá-la ou tenham notas baixas nas avaliações. 

Mas, até então, não existia um conhecimento baseado em dados que confirmasse a veracidade dessas afirmações.

Mensurar o que, de fato, influencia o desempenho dos alunos não é tarefa fácil. Pode estar relacionado tanto à violência, quanto ao nível socioeconômico dos estudantes e suas famílias.

Pelo que se sabe, características da vizinhança podem influenciar na permanência e no aprendizado dos alunos em sala de aula. Mas, pela dificuldade em analisar, separadamente, os fatores que geram efeito negativo na vida escolar de crianças e adolescentes, é que até então não existia uma análise voltada à violência perto das escolas.

No início de 2019, em um estudo elaborado por Martin F. Koppensteiner e Lívia Menezes sobre violência e investimentos em capital humano através do Institute of Labor Economics (IZA), o tema foi investigado utilizando dados de cerca de 600.000 alunos da cidade de São Paulo.

Foram levantados os efeitos de homicídios ocorridos entre as escolas e as residências dos estudantes (denominado de corredor), através de testes que questionaram as aspirações e as atitudes dos pais e alunos em relação à educação.

O resultado encontrado foi que, além das baixas nas notas de matemática e português, a infrequência e as taxas de desistência aumentaram. Isso aconteceu, principalmente, com os meninos. 

O estudo ainda levanta outra questão: os altos custos econômicos gerados pela violência no País que poderiam ser revertidos para a educação.

Abaixo, você verá com maiores detalhes o efeito da violência, tanto no desempenho dos alunos quanto, de forma breve, nos recursos para a educação.

Piores notas, menos presença e maior evasão

A taxa de homicídio no Brasil supera inúmeros países ao redor do mundo. Em 2016, foram cerca de 30 ocorrências a cada 100.000 pessoas. 6 vezes mais do que nos EUA e quase 30 vezes acima da taxa do Reino Unido.

A exposição à criminalidade causa traumas às crianças e adolescentes, como depressão, ansiedade, hipervigilância, esquiva, comportamento agressivo, delinquência e deterioração de desempenho cognitivo.

A ocorrência de um homicídio em um raio de 25 metros em torno da escola pode reduzir os bons resultados das provas de matemática em 4,6% e algo em torno de 5,5% nas notas de português.

Esses efeitos negativos se mantêm por até seis meses, o que leva, muitas vezes, os alunos a abandonarem ou se evadirem da escola. 

Conforme uma pesquisa realizada em 2012, pela Pesquisa Nacional de Saúde Escolar, 9% dos alunos do 9º ano deixaram de ir à escola pelo menos uma vez naquele ano, por se sentirem inseguros para percorrer o caminho entre casa e escola.

O impacto é maior para os meninos, conforme você pode ver abaixo:

Fonte

A exposição à violência afeta, inclusive, as aspirações e atitudes de pais e filhos em relação ao tema Educação. Veja:

Fonte

Falta de recursos na educação

Quando há falta de estudos sobre o impacto de crimes violentos no desempenho dos alunos, é difícil mensurar o quanto de dinheiro é despendido para o assunto em questão. Da mesma forma, não há informação sobre o quanto deveria ser investido em capital humano para resolver o problema da criminalidade.

Os custos da violência vão além do custo com as vítimas diretas. Os efeitos que causa em bairros com baixo nível socioeconômico é permanente e decisivo para que continuem na situação de pobreza.

O custo econômico da violência no Brasil corresponde a 5% do PIB. Caso deixasse de existir, poderia-se dobrar os recursos para a educação, que hoje possui um investimento de 6% do PIB.

O investimento em capital humano contribui para que as comunidades ascendam socioeconomicamente, haja menos crimes e mais crianças e adolescentes permaneçam aprendendo nas escolas.

Desempenho dos alunos e a intersetorialidade

As taxas de frequência ou o resultado das notas das provas não podem ser avaliados de maneira isolada. Mau comportamento do aluno ou falta de inovação dos professores nas aulas não deve ser, todas as vezes, a justificativa para o baixo desempenho dos estudantes.

A vulnerabilidade social, que se manifesta de diferentes formas no seio familiar e na comunidade, também deve ser considerada quando se fala em baixo desempenho dos alunos na sala de aula.

É preciso problematizar a questão e deixar de dar respostas simples para problemas complexos. Por isso, o envolvimento de outras políticas públicas é fundamental na luta pela superação das situações adversas enfrentadas pelos alunos.

Educação, Assistência Social, Saúde e Conselho Tutelar são exemplos de áreas que precisam estar conectadas para planejar ações em conjunto na busca pela permanência e o aprendizado das crianças e adolescentes nas escolas.

Estudos, como o elaborado por Martin F. Koppensteiner e Lívia Menezes, a respeito da violência e investimentos em capital humano são importantes para que os planos sejam desenhados com base em evidências.

Diante de dados, as ações são efetivas. Como você percebeu no estudo descrito, a violência é uma das faces que influenciam no desempenho dos alunos. Mas, não a única. Por isso, o olhar multidimensional é fundamental na resolução de problemas estruturais, como a violência.

 

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E então? Você também acha que a violência na comunidade próxima à escola afeta o desempenho dos alunos? Quais os desafios que encontra na prática? Conta para nós a sua experiência, será um prazer ouvi-lo!

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